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O LIRISMO POÉTICO DE O LÍRIO PARTIDO
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Lucy Burrows (Lilliam Gish) é sistematicamente brutalizada por seu pai, Battling Burrows (Donald Crisp), um boxeador violento e complexado. Um dia, esgotada, mal nutrida e vestida como uma mendiga, Lucy desmaia a entrada de uma loja de livros, onde trabalha um emigrante chinês, Cheng Huan (Richard Barthelmess), que prontamente ajuda a moça.
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Cheng Huan é um devoto de Buda e chegou a cidade para divulgar a sua fé, porém, o desinteresse, a apatia e falta de tolerância dos habitantes do lugar, obrigaram-no a procurar uma ocupação para se sustentar e ter um motivo para permanecer em Londres.
Cheng Huan, logo esquece a sua doutrina oriental e acaba viciando-se em ópio e leva uma vida tão apática quanto a apatia que encontrou ao chegar.
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Porém, com a entrada de Lucy em sua vida, faz com que Cheng retome a sua amabilidade ao cuidar dela: trocando seus vestidos velhos por novos e belos vestidos de seda, alimentando-a e curando suas feridas. Lucy aceita a ajuda de Cheng e acaba passando a noite no lugar e os próximos dias também. De forma muito natural, acaba surgindo um romance entre dois seres tão diferente um do outro.
Porém, essa história não termina bem, pois a tranqüilidade de Lucy e as ilusões de Cheng terminam quando o pai da moça descobre onde ela está e vai buscá-la.
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O Lírio Partido foi baseado no livro Limehouse Nights, de Thomas Burke. E, ao contrário dos filmes anteriores de Grifth, como o épico O Nascimento de Uma Nação (o mais famoso filme de Griffth), esse filme foi quase uma peça filmada, utilizando, apenas, dois pequenos sets, que eram rearranjados de acordo com as necessidades do diretor de fotografia (Henrick Sartov).
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Lilliam Gish aos 23 anos de idade!
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Líllian Gish, aos 23 anos, se achava velha demais para interpretar Lucy, mas fez com toda delicadeza melancólica a garota de 15 anos. Contudo, sua atuação foi aclamada e o seu sorriso era muito comentado nas críticas da época.
Esse filme é uma simples história de amor, onde um chinês se apaixona por uma jovem inglesa. Basicamente o filme é centrado em três personagens: uma garota que se apaixona por um chinês budista e sofre abusos de um pai violento. Mas é também um dos filmes mais belos de Griffith, encantador, justamente por sua simplicidade.
O Lírio Partido é provavelmente o primeiro romance inter-racial do cinema, ainda que muito tímido, talvez seja uma leve redenção do diretor ao tema de O Nascimento de uma Nação.
No entanto, o filme não é, de maneira alguma, um pedido de desculpas de Griffith pelo seu filme racista de 1915, é sim, uma reafirmação de uma trajetória fílmica vitoriosa do diretor, muito embora, ele tenha surpreendido toda a crítica especializada com este poético filme.
O Lírio Partido é o filme mais trágico, sério, poético, complicado e melodramático de Griffith. A perfomance inesquecível de Lillian Gish trouxe uma intensa aclamação crítica, embora a produção tenha gerado polêmica na época de seu lançamento, pois seus temas principais envolvem abuso infantil, amor interracial, uso de drogas, fanatismo racial e assassinato motivado por vingança.
Através dessa trágica história de amor idealizado e brutalizado, que Griffith expõe a sua visão sobre o novo mundo em que vive: um lugar sem mais lugar para gentilezas e suavidade. Um novo mundo, construído de energia agressiva, cruel e violenta.
Um grande filme de um grande diretor que tinha uma personalidade nada pequena!
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